O dia 10 de Junho é, apetece dizer ainda, feriado nacional e diz-se dia de Portugal, Camões e das comunidades portuguesas. Ora essa data acolhe o nome de um dos mais reconhecidos poetas nacionais, Luís Vaz de Camões, a quem se deve a narrativa evocativa das descobertas portuguesas. Mas Camões só me serve de atalho para o dia 13 de Junho.
Esse mesmo dia de 1888 dá hoje que falar mas, à data, talvez tenham acontecido sucessos que justificassem a compra do matutino mas nelas não encontraríamos a razão deste artigo. Isto porque nesse preciso dia nascia outro, senão mesmo o maior (que o é, pelo menos as olhos de quem aqui escreve), escritor de língua Portuguesa - Fernando António Nogueira Pessoa.
A data tem ainda um pouco de maior relevância uma vez que este ano se completam 125 do seu nascimento, uma data "redonda" que importa sublinhar. Sobre Fernando Pessoa, escritor, sobram as palavras, o alvoroço de ideias que rompem dos seus textos e que nos deixam entre a dúvida e a certeza, o consolo e o desalento, a tristeza e o regozijo. As mesmas palavras que se contradizem ou se vão desvendando a cada leitura feita mas que nunca nos deixam na certeza de que jamais voltaremos a elas. Ao falar de Pessoa é também discorrer sem poder fugir às diferentes "feições" visíveis na sua heteronímia. Não tenho preferências ainda que tenha um gosto particular por Alberto Caeiro que certo dia "me disse"...
Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.
Depois desse dia nada mais foi como dantes. Em Álvaro de Campos, Pessoa discorre sobre o Aniversário. Talvez seja assim este o poema apropriado para a data que se avizinha.
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...